Na sequência da ocorrência sucessiva, a nível mundial, de surtos epidemiológicos de doenças transmissíveis e de modo a proteger melhor a saúde dos cidadãos e dos turistas que visitam Macau, o Governo da Região Administrativa Especial de Macau necessita urgentemente de construir um Edifício de Doenças Transmissíveis instalando enfermarias de isolamento habilitadas a receber eventuais surtos de grande escala e onde seja possível reagir rapidamente.
Recorde-se que em 2003, eclodiram em Beijing, Guangzhou, Hong Kong e Taipei, surtos de grande escala de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Por todo o mundo mais de 8.000 pessoas foram infectadas, 774 pessoas morreram e 40% destas mortes ocorreram em Hong Kong. Durante o período de ocorrência da epidemia de SARS a Organização Mundial de Saúde emitiu alertas de segurança de viagem a Beijing, Hong Kong e Taipei, entre outros locais, o que provocou, em Hong Kong, uma redução significativa do número de visitantes. Duas empresas aéreas reduziram em mais de 40% o numero de voos o que influenciou negativamente a economia de Hong Kong em 2003.
Desde essa altura que os Serviços de Saúde da RAEM planearam a construção de um edifício de doenças transmissíveis anexo ao Centro Hospitalar Conde de São Januário que cumprisse elevados padrões de isolamento e que dispusesse de uma série de instalações médicas de alto nível, como bloco operatório com pressão negativa, sala de TAC e laboratório de P3, entre outros. A finalização dos trabalhos de arquitectura estavam previstos para 2008, mas devido à altura do edifício ultrapassar a cota altimétrica de protecção do Património Mundial a mesma teve de ser reduzida e a zona de construção teve de ser reajustada, passando originalmente de 260 enfermarias de isolamento para 120.
As enfermarias de isolamento deverem possuir uma ligação directa com o CHCSJ, porque:
1. A maioria dos casos de infecção por doenças transmissíveis será originária das instalações do CHCSJ;
2. Existe a necessidade de isolamento imediato dos casos suspeitos / confirmados para diminuição do risco de transmissão;
3. Há necessidade de uma coordenação e apoio das especialidade do CHCSJ no tratamento de doenças transmissíveis;
4. A renovação do ar das enfermarias de isolamento, após filtragem e desinfecção rigorosas, não afecta os moradores e o meio ambiente envolventes.
No ano passado, 2015, aquando da eclosão de surtos da SARS do Médio Oriente ocorrida na Coreia do Sul, pelo menos 90 pessoas no Centro Médico de Samsung de Seoul foram infectadas no Serviço de Urgência e as camas de isolamento foram insuficientes para satisfazer as necessidades. Muitos casos suspeitos ficaram nas enfermarias normais, tendo causado mais contactos e infecções hospitalares. Recorde-se, que a este propósito a Organização Mundial da Saúde criticou a grave insuficiência de medidas de prevenção e controlo de doenças transmissíveis e a falta de instalações de isolamento na Coreia do Sul.
Embora o CHCSJ disponha de enfermarias de isolamento, a construção de um edifício de doenças transmissíveis irá proporcionar instalações e equipamentos, ainda mais seguros, o que se tornará um ponto chave no sucesso da luta contra a SARS, caso esta ocorra em Macau.
Convém salientar que muitas doenças transmissíveis graves, tanto a SARS, a da SARS do Médio Oriente, como o Vírus Ebola são propagadas através de contacto próximo. O surto de infecção hospitalar, em grande escala, eclodido no Centro Médico de Samsung de Seoul na Coreia do Sul, o ano passado, ocorreu inconscientemente. Mesmo assim, não houve registo de nenhum caso de infecção nos moradores próximos. O risco de infecção ocorre antes do diagnóstico do paciente. Após o diagnóstico do paciente ele será imediatamente isolado e não haverá risco para as pessoas na vizinhança. Os hospitais modernos possuem já conhecimento das formas e vias de transmissão das diversas doenças transmissíveis, além de que as técnicas, instalações e materiais, para o isolamento de pacientes, são já muito avançadas. Isto permite, por exemplo, que quando os pacientes estejam nas enfermarias de isolamento, as áreas fora da zona de isolamento são seguras e as equipas de trabalhadores não necessitam de usar roupa de protecção além de que podem movimentar-se e alimentar-se livremente.
De facto, em muitas regiões do mundo, as enfermarias ou os edifícios de doenças transmissíveis são instalados junto a centros hospitalares, que não foram deliberadamente construídos em zonas remotas. Por exemplo, em Beijing, os hospitais que estão designados para acolher pacientes com doenças transmissíveis perigosas, tais como o Hospital Ditan e o Hospital You An, ou o Hospital nº8 do povo, além do Hospital de Doenças Transmissíveis Perigosas em Guangzhou, situam-se em áreas urbanas. Estes hospitais geralmente são compostos edifícios dos hospitais gerais e edifício de doenças transmissíveis que apesar de serem cercados por escolas, lojas e prédios residenciais não causam qualquer propagação de doenças infecciosas.
Como Macau é uma cidade pequena, com uma alta densidade populacional e alta dependência económica da indústria de turismo, que representa mais de 50% da estrutura industrial e 40% dos trabalhadores efectivos de Macau, em 2003, ano em que surgiu surtos de SRAS nas regiões vizinhas, e apesar de o território só ter registado um caso importado, houve registo no 2º trimestre de uma redução de 7,7% do PIB. Assim, é imaginável que caso ocorresse, em Macau, um surto de doença transmissível a RAEM poderia ter sofrido perdas ainda mais elevadas e graves.
A eclosão de surtos e a ameaça do Vírus Ebola e da SRAS do Médio Oriente em 2015 fazem crer que o surgimento de surtos de doenças infecciosas é iminente, e não é possível lidar com estas situações contando apenas com o factor: sorte. É necessário prevenir através da construção imediata de instalações de isolamento de doenças transmissíveis em Macau com qualidade e de elevado nível de modo a assegurar a saúde pública e proteger a saúde dos cidadãos.
É necessário sublinhar, mais uma vez, que as funções do edifício de doenças transmissíveis passam pelo isolamento rigoroso e tratamento de pacientes infectados por doenças transmissíveis, de modo a prevenir a transmissão para outras pessoas. O contrário desta situação, ou seja a não existência de um edifício de doenças transmissíveis, não irá permitir o melhor isolamento dos pacientes, podendo, assim, facilitar a eclosão de surtos por toda a cidade e arriscar a vida de toda a população da R.A.E. Macau.